Zé do Mundo, que beleza
Não chega a minuto e meio de vídeo, mas a lição está lá inteira: nunca é tarde. José Neves, conhecido na sua aldeia em Bragança por Zé do Mundo, tem 93 anos e há coisa de um mês começou a aprender a ler e escrever, conta-nos o Jornal de Notícias.
Algo me diz que Zé do Mundo, que beleza de alcunha, tem uma sabedoria da Natureza que eu não alcanço. Não o vejo a surpreender-se com os estados de alma dos céus ou das montanhas, não o imagino espantado com a forma como correm os rios e os animais, quase lhe percebo a íntima ligação ao essencial.
Sei que tem um neto chamado Rui, três letras apenas de todas as que está a aprender: R-U-I, pode agora confirmar o sr. Zé, é uma sílaba de amor.
Sem ter um só dia de escola na sua longa existência, este nonagenário ensina que a vida só acaba mesmo no último sopro; até ao ponto final é uma narrativa em aberto.
Gostava de dizer a este avô Zé como esta semana me foi preciosa a sua lição. Nunca é tarde, Maria! E agi: ao fim de sucessivas desculpas para escapar a um novo desafio, ontem à noite juntei-me a um grupo coral e performativo. Não adiei mais. Cheguei e comecei a cantar. Não canto nada de jeito, na melhor das hipóteses tenho uma voz sofrível, mas posso melhorar. Melhor ainda, tenho vozes que cantam comigo.