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Avó Cool

Avó Cool

A mulher-árvore

As árvores e as mulheres explicam-se quase do mesmo modo. Com mais similitudes do que diferenças, partilham o estilo. O meu é o do jacarandá. 

Não é vaidade, se bem que por estes dias o jacarandá em flor seja uma mancha de beleza violácea na paisagem, pintando o céu e o chão à sua volta. Apesar desta exuberância de passagem, é uma árvore de copa despenteada, com ramos que lhe cresceram meio espantados, aparentemente distraídos. Ou seja, tem os seus momentos de êxtase ao sol, mas vive o resto do tempo neste seu desalinho. E é nisto tudo que me reconheço.

O facto é que não há árvores feias. São entidades com raízes, recriando-se ciclicamente, mais cientes de si com a passagem dos anos, donas de uma história que dá frutos, abrigo, sombra, oxigénio. Fazem comunidades e comunicam entre si, sem perderem a própria identidade. São energia de terra, ar, água e fogo; a criação de uma liberdade feita de movimentos profundos e absolutamente transformadores.

Partilhando todas esta dimensão telúrica, transcendental, cada árvore é um manifesto de força e beleza em que reconheço qualidades particulares. Vejo a generosidade do carvalho, a convicção do plátano, a mimalhice do salgueiro, a resistência da oliveira ou até a urgência do eucalipto; vejo-nos em folhas arredondadas, recortadas, cheias ou delgadas, em troncos retos e curvados, lisos e rendados. Nesta arborescência, encontro todas as gradações da elegância além das formas. São árvores, podem ser mulheres.

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